A descrição no texto dissertativo


A descrição também pode ser utilizada como um recurso constitutivo da dissertação e da argumentação. Por exemplo, quando nos utilizamos de fatos e/ou de dados concretos sobre a realidade para fundamentar argumentativamente nossas opiniões, nossos pontos de vista, estamos lançando mão de elementos descritivos em textos dissertativos-argumentativos. Neste caso, devemos atentar para a necessidade de que se trate de caracterizações objetivas, impessoais, fiéis à realidade a que se referem.


Leitura Comentada

"Vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes", reflete Guimarães Rosa em "O Espelho". Na caverna high-tech do alheamento, sob o bombardeio de estímulos da grande metrópole, a sombra do efêmero ofusca a luz do mistério. É o que sinto quando retomo a mim mesmo, é o que vejo quando contemplo a vida ao meu redor. (...)
De tempos em tempos, porém, surgem fatos e ameaças que pinicam a bolha da nossa indiferença e nos despertam, ainda que por breves momentos, para questões perenes e cruciais da condição humana.
Que tipo de universo é este em que estamos metidos e do que podemos ser expelidos, sem deixar rastro ou memória, por um simples peteleco cósmico? Foi assim que me senti e foi nisso que pensei enquanto acompanhava o noticiário recente sobre a descoberta e as possíveis trajetórias do XF11, um asteróide de 1,6 km de diâmetro que deverá passar incomodamente perto da Terra em 2028.
O XF11, ao que parece, não passou de um falso alarme. Mas a ameaça de colisão, por tudo o que se pode saber, é real. As crateras da Lua, é bom lembrar, não estão lá à toa: são as marcas visíveis das caneladas, topadas e pisões que ela levou na dança do universo. Vivemos sob o olhar irônico da Lua.


(Eduardo Gianetti - Folha de São Paulo - 26/03/98)


Comentários



O texto faz uma crítica a uma inversão de valores típica da sociedade contemporânea: o supérfluo está no lugar do essencial e vice-versa. Para isso, utiliza-se de uma linguagem rica em imagens e em elementos descritivos, como por exemplo o contraste entre sombra e luz. Enquanto a primeira alude ao efêmero - para o autor nosso foco real de preocupação - a segunda representa o mistério (questões perenes e cruciais da condição humana), que relegamos.

Feita esta consideração, o autor coloca a ressalva de que tal inversão de valores às vezes é suspensa por fatos e ameaças que pinicam nossa indiferença. Em seguida, passa a exemplificar o que defende, descrevendo não apenas o asteróide XF11, mas, ainda, os sentimentos e pensamentos que lhe provocou noticiário a respeito dele.

E, finalmente, menciona a lua, cujas crateras - descritas como marcas visíveis das caneladas, topadas e pisões que ela levou na dança do universo - comprovariam a realidade da ameaça de colisão em que vivemos. Diante disso, o texto conclui implicitamente, deveríamos mudar de atitude, isto é, deveríamos repensar em que consiste o essencial, em que consiste o supértluo... Bem, aprenda mais sobre redação no nosso site para o Enem.


Este exemplo mostra a possibilidade de dissertar com utilização enriquecedora tanto de linguagem coloquial e metafórica, quanto de elementos descritivos. Por tratar-se de um texto produzido para um contexto jornalístico, de caráter opinativo, podemos, por meio dele, perceber concretamente como o impressionar agradando é, com grande salto de qualidade, um aliado imprescindível do esclarecer convencendo...

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